terça-feira, setembro 19, 2006

perecíveis

Apetecem-me coisas perecíveis.
Coisas que não tenham significado para além do prazo e nem sequer quero dar-me ao trabalho de estabelecer um prazo.
Apetecem-me coisas que terminem. Coisas que não me obriguem a ficar mais do que o estritamente necessário aqui ou ali ou onde for.
Desde sempre disseram que estava bem onde estava.

Pois é. Devo ser assim mesmo. Uma vez escrevi que tinha alma cigana. Espírito ambulante. Que não me via quieta em lugar nenhum.


Quando era miúda, adolescente, imaginava-me exactamente como estou agora. Mas, quando era miúda, e isso é coisa para se reportar ao tempo em que teria 16 anos ou muito à volta disso, o mais longe que me atrevia pensar como seria a minha vida terminava imediatamente a seguir a concluir a faculdade, começar a trabalhar, ter o meu próprio lugar chamado casa – sim, sim, que o quarto da Virgínia Woolf, para mim, dava lugar à palavra inteira: Lugar-meu! – e o carro, para andar para onde me desse na veneta sem ter de esperar alguém ou pagar condução.

Ir! Ir foi sempre o meu verbo de eleição…
Mas isto bem visto está a bater mal com as contas dos dias:

não me imaginei académica.
Não me imaginei a trabalhar mais de poucos anos no mesmo lugar.
Não me imaginei mais longe que com 25, 26 anos… ir para além disso seria um abismo. E eu não sou dada a abismos.
Sou demasiado controladinha para me deixar perder. Agarro-me de unhas dentes garras olhos bem abertos, ao que sei que sei, ao que sei que sou capaz. Quase sempre nunca arrisco.

Agora, quase a tocar os 40, é engraçado olhar para trás e ver como o tempo se enganou. É verdade. (cont.)

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sempre, sempre, sempre, etc. Volto. E vocês?

5:52 da manhã, setembro 19, 2006  
Blogger BÓLICE said...

O tempo enganou-se?!? O tempo nunca se engana minha cara senhora, rapariga-miúda.
Consegues admitir que quem se enganou foste Tu? Além disso o "Tempo" prega-nos cá cada partida...lol... e o que conta nisso tudo É definitivamente sempre o nosso regresso. Ou não?

BJK e intÉ Maria

=D

12:28 da tarde, setembro 19, 2006  
Blogger cbs said...

Agora, quase a tocar os 105, é engraçado olhar para trás e ver como o tempo NOS enganou.
Digo eu...

enfim postando :)
bjs

2:16 da tarde, setembro 19, 2006  
Blogger Choninha said...

Maria estou muito contente com o teu regresso, nunca te apaguei dos favoritos porque dentro de mim ainda vivia a esperança de reencontrar-te neste espaço. Sabes como é, gosta-se das pessoas e gosta-se de gostar delas (que cacofonia horrível)!

É bom apetecer-te nem que sejam coisas perecíveis, para mim são as melhores, o "para sempre" também não me soa muito bem. E que somos nós? Apenas uns perecíveis que para aqui andamos na ilusão de dominamos o tempo.

Mantém-te cá, "Espírito ambulante", nem que seja pelo "tempo" que te apeteça.

3:52 da tarde, setembro 19, 2006  
Blogger Luís Pedro Madeira said...

Importante é apetecerem-nos coisas, sejam elas para sempre, sejam para "enquanto durem" como dizia o poeta.
Malditos sejamos quando não nos apetece nada ou nos apetece somente aquilo que temos ou que conseguimos alcançar.
No risco está tudo o que pode fazer da vida um sítio diferente.
E é pela inquietude que vamos, ou estou enganado?
Arrisco que é assim...

Beijos LP

5:21 da tarde, setembro 19, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Um dia, alguém me disse que era da condição humana ser-se nómada. Não acredito que alguém goste da sua casa, do seu lugar, em todos e em cada um dos minutos da sua limitada vida. Recordo-me bem, Maria, quando so pensavas na viagem (ou estadia) às terras quentes de África. E se...

8:48 da tarde, setembro 20, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O tempo...

8:43 da manhã, setembro 22, 2006  
Blogger Lourenço Viana said...

Já cá não vinha hña uns tempitos. Não tinha visto estes novos. Continua a fazer-me bem. Ainda bem que voltou.

Ver longe custa. A mim custa, pelo menos. Mais que um certo ponto no horizonte. A partir daí é tudo muito esfumado e indefinido. Ou simplesmente branco, à espera de ser pintado (ou escrito, que pode ser parecido). Também posso olhar para trás e ver as coisas que eram e que viriam a ser e não foram, para dar lugar às coisas que são hoje.

É bom ver como vêem os outros.

1:30 da manhã, setembro 24, 2006  
Blogger batista filho said...

... o apelo da estrada...
engraçado: por vezes o caminho usado na ida pode ser o mesmo da volta... ou parecerá, tão somente?
ué: quando me fui aquela laranjeira era só um rebento...! - quantas flores!!! aquela casa, que achara tão grande e bonita (como pode ser?!) parece ter encolhido, desbotado...
... o apelo da estrada...
... quantos caminhos podem nos levar: quantos podem nos trazer...

... o caminho das palavras: bom caminho pra se trilhar... ir ou voltar... principalmente para
"Quem.Escreve.Escreve-SE"

1:52 da manhã, setembro 28, 2006  
Blogger Sérgio Gonçalves said...

Eu sei onde foi que o tempo se enganou. Foi ali. Mesmo ali onde o tempo faz a curva. Perto daquele buraco negro onde residem as memórias e as expectativas de outros tempos.
Ali mesmo, onde há um sinal que não viste, a indicar o caminho.

9:10 da tarde, novembro 15, 2006  
Blogger Sr. Jeremias said...

E então alguns dias, muitos, depois voltou... Foi assim que imaginaste quando deixaste de escrever?

Acho graça quando dizes que aos 16 anos te imaginavas um bocado como és hoje. Se há cinco anos me dissesem o que é o presente eu não acreditava com muita facilidade.

9:59 da tarde, novembro 20, 2006  

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