segunda-feira, janeiro 22, 2007

Experiências

4.
E se fosse possível acontecer assim:
Depois desta certeza -

"que o passado era mentira, que toda a Primavera antiga era irrecuperável e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efémera..." (Gabriel Garcia Marques)

O desejo -

"Peço-te que venhas e me dês
Um pouco de ti mesmo onde eu habite" (Sophia de Mello Breyner Andresen)


27 Comments:

Blogger manhã said...

verdades efémeras são ou devem ser mesmo as das paixões, uma vez que desatinam a doer e doem quando parecem afinal não ter sido.repetir, que as certezas são como os crepúsculos, um entre qualquer coisa e sabemos que por natureza vão e vêm, melhor mesmo é não as procurar. em relação ao desejo, um lugar onde habitamos mas que é uma casa emprestada, que depende do outro e vive do outro. disse que te compreendo a insónia, desta maneira, com a insónia.

6:10 da manhã, janeiro 23, 2007  
Blogger A. Pinto Correia said...

Grandes meias-verdades...
Beijos

11:36 da manhã, janeiro 23, 2007  
Blogger José Leite said...

Garcia Marquez e Sophia de Mello Breyner Andressen muito embora diferentes, muito embora distantes... estão tão próximos, tão íntimos, tão fecundos na sua idiossincrasia!

Parabéns pelo bom gosto!

12:34 da tarde, janeiro 23, 2007  
Blogger batista filho said...

querida amiga: na realidade nunca me afastei desse teu sítio, desde que dele tomei conhecimento.
afinidades carecem de explicação. sinto-me bem na companhia das tuas palavras. só... ou quase: faltou deixar... o meu abraço fraterno, é claro!

1:51 da manhã, janeiro 24, 2007  
Blogger paulo said...

As pessoas mudam; as circunstâncias alteram-se; o desejo envelhece, amadurece, renasce. Tu já não és a mesma do que eras quando escreveste "Tu". A vida alfabética, do A ao Z, reside, profunda, nas bocas e nas gargantas. E mudar não significa não regressar, nunca significou. Significa apenas ser, e ver, e sentir, diferente. Na mesma direcção, porque não? Com as mesmas pessoas, porque não?

5:28 da tarde, janeiro 24, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Citações de Gabriel (nome do meu filho)Garcia Marques e Sophia de Mello Breyner são sempre muito preciosas. Excelentes escolhas.

Deixo um abraço afetuoso.

11:34 da tarde, janeiro 24, 2007  
Blogger Ana Saraiva said...

Tudo é possível. O que é preciso é que a poesia não se ensarilhe nos pés da vida.Ou será ao contrário?

12:21 da manhã, janeiro 25, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Tens semeado uns questionamentos que são sementes de conhecimento ("experiências")... isso possibilita nosso crescimento, pois mesmo quando não respondemos (comentamos sobre), eles (questionamentos), permanecem...
Beijos.

9:27 da manhã, janeiro 25, 2007  
Blogger maria said...

manhã!! Toda a razão! (misturar aqui a razão vai ser bonito!!) Bom, mas é isso mesmo, só a insónia pode justificar esta minha "fuga para a frente" até nas questões-experiência! :)

rouxinol, batista filho, paulo mello e e-clair, sim, gosto muito de ambos, cada um a seu jeito, têm sido escritas que acompanham os dias, as voltas e os sarilhos.
e-clair... por isso é que se ensarilharam à volta dos (meus) pés! :) :)

ba e bia, lá que são perguntas que vou deixando, ah isso são! se importam?! :) eheh... isso também é simpatia vossa!

paulo, não acredito nessa mudança nem acredito que, de fundo, alguém mude. Não quero, com isto, dizer que acredito na permanência absoluta... nada disso, mas não acredito que, apesar do tempo e das circunstâncias, as pessoas mudem o que são e como são. Especialmente em relação com os outros. Por isso, definitivamente, não! Não acredito que fosse possível, depois de algum antes, o caminhar na mesma direcção muito menos com as mesmas pessoas...
ehp... é que eu sou uma descrente! :)

nota: é fantástico o modo como "a coisa escrita" permite tanta leitura diversa... quando aqui deixei Garcia Marques e Sophia, nem me passou pela cabeça a leitura de continuidade... pelo contrário, era exactamente o contrário, era mais no sentido de voltar a crer depois de já ter percebido o quão "passageiro" pode ser o "amor mais desatinado e tenaz"!

1:08 da tarde, janeiro 25, 2007  
Blogger manhã said...

agora, assim, depois de explícita a intenção, percebe-se de outro modo a junção dos dois textos/autores.A escrita é mesmo terrível, o que vemos nós, o que vêem os outros, o que queremos o que os outros querem e depois encontra-se tudo na leitura de um texto e dispara em várias direcções, às vezes espanta-nos porque queremos compreensão, outras não, depende de onde e quando nos encontramos ao escrever e que significado tem para nós escrever assim para desconhecidos. Mas no fundo acho que escrevemos para alguém, uma pessoa, há um interlocutor primeiro, especial ao qual queremos chegar com as nossas palavras, os outros também estão lá mas de uma forma difusa.
(hoje é testamento...bjo)

7:03 da tarde, janeiro 25, 2007  
Blogger paulo said...

És como um oleiro que não acredita o barro dúctil; como um marinheiro que além do Norte, perdeu o destino e o cais de partida. Tu, que formas pessoas, não acreditas sinceramente que elas mudam? Que os padrões das relações, como os patinhos saídos dos ovos, sigam a direcção do que se move à sua frente, ainda acredito, que um mais um são dois, também acredito, que o amanhã é forçosamente diferente, tenho de acreditar. E como se mete isto tudo na mesma equação? Não se mete. O Homem não se reduz ao número do Homem. E se sou formado por gene e herança, sou também formado pela minha vontade e pela vontade dos que me convencem. Parece-me que tu não mudas a tua visão do outro, quando a cristalizas. E parece-me que confundes isso com uma pressistência que na verdade não é característica do outro, mas uma solidez na tua avaliação primeira. Que eu aprecio. Mas que acho incompleta. É, mas o mundo é tão grande como os olhares de todos. Xi, senhora da mente.

7:19 da tarde, janeiro 25, 2007  
Blogger maria said...

manhã, fazendo uso da frase final: "hoje é..." isso mesmo! A escrita é matéria fluida e a interpretação, essa, uhm... pode ser o que dela nos apetecer fazer. Por isso ser tão bom escrever e tão fantástico ler! :)

paulo, que conheço alguma teimosia... oh se sim! que a reconheço em mim... também! Mas em relação às pessoas?!... :) bem, meu amigo, não cristalizo nada!
Acredito é n'algum saber "de experiência feito" e, no que toca às pessoas e à forma como as pessoas se relacionam com acasos, encontros, conhecidos, amigos, amantes, amores ou sei lá o quê... cá vou tendo as minhas teorias e,
"Não há melhor prática que uma boa teoria!"
portanto, a agir... só com base no que julgo saber!!
:)

12:56 da manhã, janeiro 26, 2007  
Blogger hfm said...

Sempre belo e com que citações!

9:25 da manhã, janeiro 26, 2007  
Blogger Choninha said...

Na vida tudo é impermanente!

Mas as palavras podem inquietar ou amaciar a nossa existência. Porque algumas "falam" connosco, ficam, andam para cima e para baixo dentro de nós.

Quero deixar um beijo, de grande admiração, para a minha Maria preferida e um :)

2:32 da tarde, janeiro 26, 2007  
Blogger zé lérias (?) said...

A utopia. Sim, a utopia é uma coisa maravilhosa!...
Bom fim de semana.
Puz, aqui, a escrita em dia.
Um abraço

11:28 da tarde, janeiro 26, 2007  
Blogger Farkas said...

um poema com verdade, amor e liberdade


"Pela encosta do Líbano, rugindo,
O noto furioso
Passou um dia, arremessando à terra
O cedro mais frondoso;
Assim te sacudiu da morte o sopro
Do carro da vitória,
Quando, ébrio de esperanças, tu sorrias,
Filho caro da glória. [...]
Plante-se a acácia, o símbolo do livre,
Junto às cinzas do forte:
Ele foi rei – e combateu tiranos –
Chorai, chorai-lhe a morte!
Regada pelas lágrimas de um povo,
A planta crescerá;
E à sombra dela a fronte do guerreiro
Plácida pousará.
Essa fronte das balas respeitada,
Agora a traga o pó:
Do valente, do bom, do nosso Amigo
Restam memórias só;
Mas estas, entre nós, com a saudade
Perenes viverão,
Enquanto, à voz de pátria e liberdade.
Ansiar um coração. [...]
Alma gentil, que assim nos hás deixado,
Entregues à alta dor,
Anjo das preces nos serás, perante
O trono do Senhor:
E quando, cá na Terra, o poderoso
As Leis aos pés calcar,
Junto do teu sepulcro irá o opresso
Seus males deplorar [...]
Mas quem ousará à pátria tua e nossa
Curvar nobre cerviz?
Quem roubará ao lusitano povo
Um povo ser feliz?
Ninguém! Por tua glória os teus soldados
Juram livres viver.
Ai do tirano que primeiro ousasse
Do voto escarnecer!
Nesse abraço final, que nos legaste,
Legaste o génio teu:
Aqui – no coração – nós o guardámos;
Teu génio não morreu."

Alexandre Herculano, A Harpa Crente

9:46 da tarde, janeiro 27, 2007  
Blogger batista filho said...

tenho algumas fotos de pessoas mui queridas... antigas fotos, tempos outros. algumas dessas pessoas já se foram p'outros planos de existência... mesmo as que não fizeram ainda a grande passagem, inclusive eu, mudaram: e não só fisicamente... as fotos despertam lembranças: boas ou não tão boas. partes de nossas vidas... que passaram!

(divaguei ao te ver empunhando a máquina fotográfica. é domingo. um domingo que começou nublado, mas que agora, às 17 horas, o sol resolveu dizer "oi!")

uma beijoca, amiga.

7:02 da tarde, janeiro 28, 2007  
Anonymous Anónimo said...

E se tudo aquilo que nós damos como adquirido não for verdadeiro?
Será que a nossa própria fraqueza é o que não nos permite acreditar que mudar é possível?
E se for? Será preciso coragem para o admitir - é talvez toda a nossa vida, as nossas perspectivas, as nossas opiniões, as nossas decisões que estão subjacentes a um princípio errado...

11:05 da manhã, janeiro 29, 2007  
Blogger a d´almeida nunes said...

Vim aqui no voo dum falcão peregrino! Ou no sonho duma noite de adolescente?!
Lembrei-me do que li há muitos anos atrás, as observações feitas por um falcão peregrino enquanto em viagem...e eu a sobrevoar em tempos indefinidos lugares e recordações!...
Cá vamos andando!...
António

6:19 da tarde, janeiro 29, 2007  
Blogger Tozé Franco said...

Excelentes citações.
Um abraço.

8:53 da tarde, janeiro 29, 2007  
Blogger zé lérias (?) said...

Boa semana de trabalho, Maria!

3:32 da manhã, janeiro 30, 2007  
Blogger Unknown said...

a distancia de se estar...correr e sentir...
a distancia de um olhar...de um tempo percorrido entre ontem e hoje.
beijo

12:07 da manhã, fevereiro 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Vim em busca de uma postagem nova, mas não encontrei. Fiquei fazendo umas releituras, somente para constatar que este espaço é deveras mui agradável.

Deixo um abraço e os votos de um final de semana bem legal pra ti.

1:33 da manhã, fevereiro 03, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Vim trazida por outros ventos e eis que me deparo com escritas que me agradaram e muito.
Voltarei.
Deixo-te então uma pérola incandescente de boa inspiração sempre!
Eärwen
03.02.07

2:24 da tarde, fevereiro 03, 2007  
Blogger Bandida said...

o passado e o desejo são companheiros de mãos dadas e nada mais que uma verdade efémera. assim fossem todos os sentidos em direcção ao vento que anda para lá das montanhas ronchosas da verdade.




B.
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12:01 da manhã, fevereiro 05, 2007  
Blogger Unknown said...

Sim... e volta com as tuas armas habituais, com as tuas particularidades que me fazem rir e tremer, que me fazem quebrar e partir.

Nada como uma linguagem própria para desarmar a restituição.

Bjzz+Hugzz, versão Kraak

12:31 da manhã, fevereiro 05, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Tudo bem... mas escrever o quê e sobre quê? A não ser que se escreva por escrever que, é o mesmo que escrever sobre nada, tentando por exemplo, o caminho hilariante argumentativo ou, o argumentativo sério, fazendo esforço para que o apresentado pareça parido da facilidade e com algum recorte literário como reflecte o mundo comunicacional em alguns dos seus artigos de opinião e, fácil é, parecer o que se não é, bastando para isso algum jeito e um pequeno bolso de conhecimento que alguns, infelizmente, insistem em não usar deixando adensar o sentido de grandes pensamentos que se presume, com dificuldade é certo, queriam ter tido.

3:22 da manhã, fevereiro 05, 2007  

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