quarta-feira, agosto 24, 2005

Num "abuso de paciência", a pergunta: entendem-me aqui?

Há trabalhos que nos enlouquecem...
há coisas que, tendo de ser feitas, nos matam demasiado se nos tiram A liberdade de expressão.
Isto é um bocado (o começo) da conclusão de um relatório que anda a queimar-me a vida...
digam-me... posso escrevê-lo assim? lêem-no assim? Percebem-me (e à intenção das palavras) aqui?
eis a desdita...

A elaboração de um trabalho, qualquer que seja o trabalho, deve poder contar-se, no seu terminus, como processo que se desenvolveu tendo em vista (mais ou menos clara, mais ou menos próxima mas sempre permanente) o objectivo. Um trabalho como a investigação (...) no campo das ciências (ditas) humanas, deve, de modo imprescindível, acontecer sabendo a cada passo, quais as razões, os motivos, as implicações que, a montante, levaram a tomar-se como urgente tal estudo.
O facto é que, neste trabalho, vimos todo o fundamento da nossa vida (desde estudante nos primeiros momentos de Escola a profissional da preparação de “outros” para a Escola e/ou – porque não dizê-lo – para a vida), desmoronar-se por entre entraves de burocracia do sistema, por falta de confiança de que valesse o esforço estar a questionar mais profundamente os hábitos, que fosse útil recuperar antigas formas de estar e fazer em Educação, que fosse possível inflectir, esticar, renovar, numa palavra: mudar! Da perspectiva de que fundamental seria cuidar da mudança a partir dos professores e dos anos antes dos estudos superiores, percebemos que, se desejávamos apresentar trabalho, alcançar conclusões de diagnóstico que permitissem elaboração e definição de novas rotas para traçar caminhos de acção concertada, então… devíamos deixar os profissionais e voltar-nos para os estudantes. Deixar os níveis onde (quase consensualmente) ouvimos afirmar-se “valer a pena” agir por ser ainda menos tarde, para tomar os estudantes dos anos (a julgar pela anterior perspectiva) “perdidos” ou, numa visão menos desastrosa, onde apesar de “tarde demais”, “qualquer coisa”/alguma coisa, valesse o tempo.
Deixámos os professores. Partimos para a abordagem das necessidades dos estudantes. Guardámos para um plano secundário o ensino pré-estudos-especializados e avançámos para os anos de preparação profissional.
Escolhemos abandonar uma população cansada de tanta experiência, mudança, reforma (como os professores dos básico e/ou secundários), para tocar uma amostra especial, deslocada, “diferente”, talvez por ela mesma se apresentar como “diferente”. Dos professores dos níveis básico e secundário, das suas especificidades, limitações e circunstâncias, passámos a procurar conhecer, descrever, caracterizar, encontrar e distinguir, uma população que, estando deslocada, precisa sentir-se “em casa”, acolhida, fazendo parte.
Da proposta inicial que nos retiraria do universo da Universidade para as escolas que a preparam, viemos desembocar numa população que é no meio Universitário que se encontra, no meio universitário que se constrói, no meio universitário que defronta os maiores desafios, obstáculos, propostas, caminhos, projectos… e para os quais sente a imensa falta de meios de que quase toda a população (escolar e outra) se diz necessitada mas que, dada a condição de deslocação e vida sem rede de suporte, se sabe ser mais vulnerável, frágil, fragilizada. Precisada, indubitavelmente, de estudos que a abordem e projectos que a reforcem, a relancem no caminho do sucesso académico que, necessariamente, irá conduzir (pelo menos alimentar) a real contribuição destes jovens para o progresso e desenvolvimento dos seus países. Falamos dos estudantes deslocados dos Países de Língua Oficial Portuguesa, para já, neste estudo para o desenvolvimento do trabalho.
É nossa intenção alargar realidades e prosseguir investigação conducente à organização de grupos que se assumam como redes sociais de suporte, como núcleos de apoio e desenvolvimento, como pequenas células onde se dê vida à multiplicação das melhores vontades ou seja, espaços-tempo onde ainda que saibamos que (como já citado a partir de José de Almada-Negreiros): quando nascemos, “as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas… ” também lembramos em permanência que: “… só faltava uma coisa – salvar a humanidade.”
Não pretenderemos “salvar o mundo” mas exigimo-nos contribuir para que, pela nossa acção, Este melhore e se recupere do fumo de morte a que se tem vindo a entregar há demasiado tempo, tão demasiado tempo…

17 Comments:

Blogger isabel mendes ferreira said...

:) hum hum...puxa...Bom dia.

8:53 da manhã, agosto 24, 2005  
Blogger paulo said...

Querida Doutora: Sendo a senhora uma comunicadora de primeirissima água, por vezes deparará com obtusos incapazes de discernir mensagem de conteúdo, ideia de forma, água de vinho; persevere. No seu papel de educadora, algum educando fenecerá nas brumas; concentre-se nos lideres do rebanho; eles são as mãos e olhos do pastor. Quanto as vozes que de si decidem destinos, as opções são duas: Concordar e lutar; discordar e lutar. Como podemos lêr posts abaixo, mudar faz parte do seu caldo genético. Não contrarie essa herança de insatisfação. De resto, trabalhe, e erga com a força do seu inabalável intlecto uma torre de saber, brilhante de tão transmissível. Um seu penhorado admirador.

9:37 da manhã, agosto 24, 2005  
Blogger Farkas said...

Gustav Mahler, também, Bach; claro!
Keith Jarrett entre muitos, no "Blue Note" com Peacock e DeJohnette..
citando António Cartaxo, "em sintonia..."

óptimos textos

10:27 da manhã, agosto 24, 2005  
Blogger maria said...

Viva! Muito grata, já estou, às vossas leituras!
MF, Bom dia! Bom ouvi-la!

Paulo... estás muito cordialmente generoso, hoje! ;)

Pinto Ribeiro ;) o Companheiro Farkas estava só a apanhar-me pelos meus nomes de referência... e, mea culpa, mark dresser não faz parte da lista lá do perfil... ups!
:)
Bem vindos, bem vindos!

1:18 da tarde, agosto 24, 2005  
Blogger mfc said...

Entendo... basta ver a incompetência de quem dirige o destino dos alunos e organiza a vida dos professores!

1:43 da tarde, agosto 24, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Persevere sim, mas não só investindo nos líderes: as tragédias cotidianas se repetem comandadas por aqueles que um dia tiveram altos ideais, mas ao longo do tempo mudaram de lado, ou simplesmente sucumbiram ao desânimo, deixando seus "tutelados" mais perdidos que estavam inicialmente, e ainda com o agravante do desencanto...
Por mais que pareça, gente não é gado, embora na maioria das vezes assim seja tratada.
Um abraço fraterno.

2:59 da tarde, agosto 24, 2005  
Blogger paulo said...

Batista: não era minha intenção comparar ninguém a gado; era uma imagem, talvez infeliz, mas uma imagem. De pequeno poeta para grande poeta ( passeei seu site ), desculpe o mal entendido. Shake hands transantlântico.

3:26 da tarde, agosto 24, 2005  
Blogger hfm said...

Eu já vi isto noutros olhos, noutras ânsias, noutros tempos. Continue com a acção e nunca perca a esperança o que, convenhamos, neste país é bem difícil!

5:04 da tarde, agosto 24, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Paulo: em nenhum momento achei que comparaste gente a gado. Simplesmente ressaltei que não seria interessante investir nos líderes de forma diferenciada, até porque, normalmente quem assume posições de liderança já teve condições de vida diferenciadas da maioria das pessoas (salvo exceções). Não havendo porque me pedires desculpas, mas as peço a ti, por não ter consiguido me fazer entender. E com isso espero ser desfeito qualquer mal-entendido. Deixo-te o meu abraço fraterno.

5:21 da tarde, agosto 24, 2005  
Blogger batista filho said...

errata: "conseguido"

5:28 da tarde, agosto 24, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Lê-se, compreende-se, empatiza-se, interroga-se e reconstroi-se.

Doido

7:12 da tarde, agosto 24, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Lê-se, compreende-se, empatiza-se, interroga-se e reconstroi-se.

Doido

7:12 da tarde, agosto 24, 2005  
Blogger Cadelinha Lésse said...

Lá está o Doido nas suas dobradinhas...

8:12 da tarde, agosto 24, 2005  
Blogger dulcehelenaguerreiro said...

Apropriando-me de uma expressão do Paulo, mas só porque é (outra vez) dirigida a ti: " Rapariga, és uma canetinha d'oiro".( Não sei se era exactamente isto, mas estará lá perto)

9:52 da tarde, agosto 24, 2005  
Blogger Sr. Jeremias said...

Não consegui ir além dos trabalhos que enlouquecem...

12:41 da manhã, agosto 25, 2005  
Blogger maria said...

Obrigada pela paciência de todos!
e as palavras simpáticas! (sim, sim, até tu dumb, à boa maneira miúdo-reguila! :))

Batista Filho, fui lá e não consegui dizer nada no seu espaço... uma pena. Apeteceu-me imenso e, sempre que assim é, querer escrever e não dar, quase me saltam os dedos, cheios de letras que não se querem presas!

Pinto Ribeiro, andamos a trocar-nos, cá vou eu... ;)

Laurariu Salice, gosto destas ameaças! (é um anagrama???)
:)

1:56 da tarde, agosto 25, 2005  
Blogger Carlos de Matos said...

... tenho um princípio maluco!
... sempre que um post é grande, em tamanho, imprimo-o, para o ler mais tarde, com calma.

... é o que vai acontecer agora! vou imprimi-lo e lê-lo, talvez com a luz do dia, lá no meu escritório!

... depois, à noitinha por tua "casa" passarei e direi!



Xi

11:22 da tarde, agosto 29, 2005  

Enviar um comentário

<< Home